Olá meus queridos vestibulandos!
Aproveitando o post da professora Karla sobre o Rio de
Janeiro, e sabendo que uma interdisciplinaridade sempre rola no vest da UERJ,
proponho hoje falarmos um pouco sorbe a Revolta da Vacina. Já ouviram falar?
A revolta da vacina ocorreu em 1904 e consistiu num levante
urbano ocorrido na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 10 e 16 de novembro
de 1904, contra a imposição, feita pelo Estado, de vacinar toda a população
carioca contra a varíola. Doença essa que vinha matando aos montes nestas
redondezas.
Este fato seria o estopim para o desencadeamento
de uma manifestação popular. Mas é necessário entender que outras questões estavam também
diretamente envolvidas. Questões que já vinham desagradando a população mais
pobre, trabalhadora, e ao que parece, completamente esquecida pelo Estado.
O início da década de XX pode ser caracterizado como o
período em que as oligarquias, por diversos meios, voto de cabresto, política
de governadores, se mantém no poder, dominando todo o cenário político
brasileiro e buscando atuar para atender as suas necessidades e interesses.
Ao mesmo tempo, é um momento de entrada das idéias
positivistas no país, acompanhadas pelo ideal de modernização. Lembremos que
nesta época, o Rio de Janeiro se constituía capital do país. Com a prosperidade
do café, era necessário modernizar essa cidade, composta por ruas estreitas,
sujas, e casebres e cortiços sem nenhum saneamento básico. É claro que neste
caso, me refiro principalmente a região central do Rio. Isso mesmo! O centro do
Rio de Janeiro abrigava a massa da população trabalhadora, que morava em
pequenas casas e cortiços próximas às indústrias. Como o salário já era baixo,
o objetivo era cortar gastos!Inclusive com transporte. Dessa forma, a população
se amontoava pelos centros, onde praticamente não havia o recolhimento de lixo,
com esgoto a céu aberto, e locais úmidos. Imagine o cenário! Muito propício
para o surgimentos das várias doenças como varíola, febre amarela e peste
negra, não?
Agora some isso ao desejo do governo federal, (nesta época
quem governava era um cara chamado Rodrigues Alves) de modernizar a
cidade....Não daria boa coisa, certamente.
O objetivo do presidente era simples, transformar a capital
do Brasil na capital do progresso. Mostrar ao resto do mundo o que o café e a
república trouxeram: modernização, avanço, desenvolvimento! Mãos a obra?
Quem ficaria a cargo da realização do projeto seria o
prefeito da cidade: o arquiteto Pereira Passos. (aquele que dá nome a uma das
ruas do Saara, afinal que político não dá nome de rua hoje em dia e sempre?)
Logo que eleito ele iniciou uma ampla reforma na cidade. Destruição dos
cortiços e casas, alargamento das principais ruas como a Rio Branco e a
Presidente Vargas, ampliação da rede de água e esgoto. Que maravilha!Não?
Não! As pessoas que moravam ali foram simplesmente expulsas
do local onde residiam sem qualquer tipo de indenização! Escurraçadas! Nenhum
projeto social de assistência foi dado a estas famílias que se viram sem lugar
para morar de uma hora pra outra. Solução? Ir para os morros, afinal a
geografia do Rio de Janeiro é assim, composta por vários morros e lagoas. Foi
assim que as favelas foram começando a ganhar espaço. Lá, ainda no centro,
próximos aos seus empregos, a população foi se reconstruindo. Uma casinha do
lado da outra, ainda sem saneamento básico, coleta de lixo...a situação
continuava precária. Para piorar um surto de malária aterrorizava a cidade,
mais 3.500 pessoas morreram da moléstia. O presidente Rodrigues Alves precisava
fazer alguma coisa para mudar aquele cenário. Convocou então o médico
sanitarista Oswaldo Cruz que de imediato começou uma campanha de saneamento e
higienização da cidade. O grande problema é como isso seria implementado. Para
começar foi composto um exército de mata-mosquitos....isso mesmo. Pessoas que
tinham a incumbência de sair por aí (a isso se inclui entrar, sem autorização
nas casas das pessoas), soltando aquele sprayzinho desagradável, interditando
locais, e internando pessoas a força! Outra medida sem pé nem cabeça, foi a
remuneração daqueles que trouxessem os ratinhos que andavam por aí por perto,
300 réis, para ser mais exata. Aqueles que transmitiam a famosa peste negra, ou
bulbônica. O grande problema é que as pessoas começaram a criar os animaizinhos
em casa para vender e tirar uma grana extra no final do mês.
A pior das medidas foi sem dúvida a vacinação obrigatória e
o bota-abaixo. Imaginem só, além de serem expulsos de suas casinhas no centro
da cidade, serem obrigados a se deslocarem para morros, o governo ainda
“inventava” que todo mundo deveria ser vacinado. Vale destacar gente, que essa
reforma feita no Rio de Janeiro ficou conhecida como “bota-abaixo”, e que a
vacina em si naquela época ainda era algo bem desconhecido aqui no Brasil. Se
as elites sabiam pouco sobre, imaginem o povo, que mal tinham acesso a
informação! Para piorar o governo não se preocupou em conscientizar essa
população, não fez campanhas, não explicou o que era a vacina, onde ela era
aplicada e o porquê. Simplesmente convocou sanitaristas que acompanhados da
policia, entravam nas casas violentamente, sem nenhum respeito, e aplicavam
aquele troço horroroso, que deixava o braço dolorido. Para piorar rolou um
boato de que a vacina era na virilha!Imaginem, início do século XX as meninas
ainda cheias de pudores, pais ciumentos e zelosos, isso era um desrespeito
total! Fica muito claro o descaso do governo com a população mais humilde.
Entre os dias 10 e 18 de novembro a população se rebelou
violentamente. Os jornais chamavam a manifestação de “a mais terrível das
revoltas populares da república”. O povo descia o morro tombava bondes,
arrancavam seus trilhos, destruíam calçamentos. “Em meio a todo o conflito, com
saldo de 30 mortos, 110 feridos, cerca de 1000 detidos e centenas de
deportados, aconteceu um golpe de Estado, cujo objetivo era restaurar as bases
militares dos primeiros anos da República.” A revolta foi sufocada, a cidade
remodelada e a varíola, extinta até os dias de hoje.
O objetivo era a modernização de uma cidade que
historicamente, cresceu de forma desordenada, não contando com serviços básicos
nas partes mais populosas e populares da cidade. Ao iniciar o “bota-abaixo” o
governo deixou claro seu descaso à massa da população, já que sequer se
preocupou com uma indenização, realocar essa população, ou criar uma estrutura
que permitisse o deslocamento destes trabalhadores de locais mais distantes em
direção ao centro. O povo então, optou por ficar por ali mesmo, onde desse.
Está lá até hoje, e embora esteja localizado nas áreas centrais, é uma
população que não recebe qualquer atenção do Estado.
Morro da providencia (localizado no centro do Rio) no fim do século XIX e atualmente.
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